

"Eu e minha irmã repartimos o chocolate em METADES IGUAIS." Ao dividir algo pela metade, as duas partes só podem ser "iguais"! | ![]() |
"O casal ENCAROU DE FRENTE todas as acusações." Seria possível que eles encarassem "de trás"? | ![]() |
"A modelo ESTREOU seu vestido NOVO." Seria possível que ela estreasse um vestido "velho"? | ![]() |
"Adoro tomar CANJA DE GALINHA." Se é canja que você toma, só pode ser "de galinha"! | ![]() |
"O estado EXPORTOU PARA FORA menos calçados este ano." E como ele poderia fazer para exportar para "dentro"? | ![]() |
"Quando AMANHECEU O DIA, o sol brilhava forte." Você já viu amanhecer a "noite"? | ![]() |
"Tiradentes teve sua CABEÇA DECAPITADA." Alguém já viu um "pé" ser decapitado? Decapitação só existe da cabeça mesmo! | ![]() |
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E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?
Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?
E agora, José?
Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio – e agora?
Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?
Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse...
Mas você não morre,
você é duro, José!
Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José!
José, para onde?
Carlos Drummond de Andrade © Graña DrummondFonte: http://www.memoriaviva.com.br/drummond/index2.htm
![]() | Nasceu em ltabira (MG) em 1902. Fez os estudos secundários em Belo Horizonte, num colégio interno, onde permaneceu até que um período de doença levou-o de novo para ltabira. Voltou para outro internato, desta vez em Nova Friburgo, no estado do Rio de Janeiro. Pouco ficaria nessa escola: acusado de "insubordinação mental" - sabe-se lá o que poderia ser isso! -, foi expulso do colégio. Em 1921 começou a colaborar com o Diário de Minas. Em 1925, diplomou-se em farmácia, profissão pela qual demonstrou pouco interesse. Nessa época, já redator do Diário de Minas, tinha contato com os modernistas de São Paulo. Na Revista de Antropofagia publicou, em 1928, o poema "No meio do caminho", que provocaria muito comentário. |